Há de se considerar, no entanto, que existe uma presença resistente de escritoras negras, que, apesar de suas obras não estarem presentes na história literária, nos circuitos editoriais e mercadológicos e de não serem respaldadas pela crítica, elas inventam uma outra representação de si, de suas histórias e dos mundos que lhes circundam. Temas como culturas afro-brasileiras, ancestralidades, escravidão, formas de resistência, amor, liberdade, identidades, poder, solidão, sofrimentos etc são continuamente (re) inventados em sua produção literária.
Nomes, tais como Rosa Egipcíaca, Teresa Margarida da Silva, Maria Firmina dos Reis, Antonieta de Barros, Auta de Souza, Maria Carolina de Jesus, Conceição Evaristo, Miriam Alves, Alzira Rufino, Esmeralda Ribeiro, Geni Mariano Guimarães, Sônia Fátima, dentre outros, provocam estranhamentos e, concomitantemente, nos levam a pensar que a sua ausência na tradição literária já são indícios das relações desiguais étnico-raciais e de gênero entre nós. Na Bahia, a literatura, dentre outras, de Aline França, Fátima Trinchão, Wanda Machado, Rita Santana, Lita Passos, Mel Adún, Jocélia Fonseca, Elque Santos ressignifica as africanidades, histórias e vivências, bem como tecem afirmativamente uma escrita de si e uma auto-representação.
A literatura de escritoras negras baianas constitui-se, em verdade, como práticas que provêm da busca de descentramento e de deshierarquização de saberes e de seus processos de elaboração, bem como de enfrentamento das múltiplas formas de interdição, ou seja, de impedimentos e de não possibilidades de produção e de divulgação da sua literatura. Suas obras, portanto, nos remetem a pensar que necessário se faz provocar abalos no cânone literário, descolonizando a identidade autoral e forjar caminhos de incluí-las nos diversos cenários das Letras, inclusive nos currículos escolares e no fazer pedagógico.