segunda-feira, 5 de maio de 2008

A LUA CHEIA DE VENTO

Os meus olhos estavam fechados
Encontrava-me em transe
Em um mundo escuro
Sozinhos, eu e o vazio

Estava pavorosamente trêmulo
E uma gota de suor
Brotava da minha testa
Rolava pelo meu rosto
E se perdia pelo meu pescoço.

Estava emanecendo de medo
Daquela solidão

Não sei de onde veio, mas senti a
Presença de uma brisa suave
Como se me observasse à distância
Logo depois se aproximou
E tocou o meu rosto levemente
Com a suavidade de uma pluma
Arrancando dos meus lábios um leve sorriso

Depois de pouco tempo o meu mundo escuro
Já não estava tão vazio
Eu já não estava com tanto medo
Somente o suor ainda insistia em escorrer

A essa altura o meu mundo já tinha estrelas
E elas formavam
Uma figura mágica e linda
Não sei bem o que era mais me fascinava

Aquela brisa foi ficando mais forte
E agora envolvia todo o meu corpo
Eu flutuava, sorria e bailava no ar

E sem ao menos esperar
Os seus lábios carnudos
Encostaram nos meus
E lentamente as nossas bocas foram se abrindo
E as nossas línguas se entrelaçaram
Com uma intimidade absurda
Nos beijávamos com uma sede desértica

Meu coração?
Bem meu coração suplicava desesperadamente
Para sair do meu peito
e compartilhar diretamente
com a felicidade dos meus lábios

Nunca havia sentido tal sensação anteriormente
Não daquela forma

A situação estava fora do meu controle
Razão? Esta não existia naquele lugar
E eu continuava a bailar
Naquele imenso vazio
Junto a aquele ser esplendoroso

Os beijos cessaram
e agora ela me abraçava forte
e sussurrava ao meu ouvido
da mesma forma que a figura

Não sabia decifrar aquelas palavras
só sei que me trazia muita paz
me deixando agora mais leve que antes

E aquele medo
parecia nunca ter existido
as estrelas estavam cada vez mais reluzentes
eo suor do meu rosto formava um mar
que surpreendentemente
flutuava naquele vazio, era tão lindo!

Nem acreditava no que eu estava vendo
ela ali em torno de mim
e o mar a nos abservar

A tal figura assim como a brisa
tomava a forma de uma linda mulher
de uma linda Deusa negra
era Iansã Balé
com sua coroa de esmeraldas
por sobres os seus cabelos ”nagô”
e os teus seios fartos
delineavam-se sob o seu vestido
salmão transparente

me convocando para bailar contigo
no meio daquele espaço, daquela imensidão
logo a mim que protegia a lua dos amantes
com o meu ofá
me encontrava apaixonadamente
mergulhado na sensibilidade
daquele corpo quente, macio sedoso

A brisa acabou por penetrar na minha boca
escorregou pela minha garganta
e se alojou no meu peito

Naquele instante já não era mais o protetor
E sim a própria lua cheia de amor, beleza, desejo e pureza
Uma lua cheia de vento.

(2005)

***Zezé Olukemi é grafiteiro e poeta.