quarta-feira, 18 de março de 2009

Pesquisa reveladora

(10/03/2009 no Jornal Ìrohìn)

Não sei se terá relevância para os partidos políticos e os movimentos negros a informação colhida por recente pesquisa do Ibope. Segundo a Agência Estado, “77% dos entrevistados afirmaram que votariam em um homem negro e 75% elegeriam uma mulher negra para qualquer cargo público, número maior dos que votariam em mulheres de qualquer raça”.

Segundo ainda informou o repórter Gustavo Uribe, o Ibope avalia que esse resultado é conseqüência da eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. Senti aqui , perdoem-me, um certo menosprezo pelo fato, tomado apressadamente talvez como superficial e transitório, ou demasiadamente conjuntural.

A meu ver, a informação não é nada desprezível. Afinal, resulta da avaliação de disposições subjetivas provocadas pela exposição da candidatura Obama, ou seja, pela exposição continuada de uma imagem positiva do negro, coisa rara entre nós.

Não quero com isso alimentar nenhuma expectativa irrealista. Mas o importante não é confrontar essa predisposição com a proporção insignificante da representação política negra nos níveis municipal, estadual e federal. E concluir pela desimportância da pesquisa à luz crua da sub-representação negra.

Julgo ser mais relevante nos debruçarmos sobre as relações entre a invisibilidade do negro nos meios de comunicação, ou sua representação distorcida e estereotipada, e sua baixa participação político-eleitoral. A pesquisa aponta, inevitavelmente, para a realidade do controle das representações sociais exercido pela mídia.

Se a avaliação do Ibope é correta, ou seja, que os números favoráveis a candidaturas negras refletem tão-somente o efeito Obama, a pesquisa tem o mérito de reafirmar a importância dos meios de comunicação para os avanços da cidadania negra e para a superação de atitudes e práticas discriminatórias. E isto não é pouca coisa.

Edson Lopes Cardoso
edsoncardoso@irohin.org.br

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