quarta-feira, 4 de março de 2009

Editorial do "Guia do XVIII"



Nos países que foram colônias, recentemente, como o nosso, os modelos das coisas são de quase tudo é importado, porque os colonizadores catequizaram os colonizados, durante séculos, com a idéia de que eles não pensam, não sabem, não criam, para faturar com os seus próprios modelos. O modelo Theatro XVIII, diferente de todos os outros da cidade, foi criado com o objetivo, rapidamente alcançado, de unir o artista ao seu público, e vice-versa, coisa ainda rara no Brasil de hoje, e muito rara na Bahia de 2000.

De 1997 a 2009, o XVIII implantou os projetos educativos das segundas-feiras, realizou produções brasileiras de qualidade indiscutível, atuou com crianças e adolescentes, ousou no preço, alterou horários, modificou comportamentos, confrontou, criou, e construiu o público mais desigual e uniforme da cidade da Baía, de pretos e brancos, ricos e pobres, comunistas e capitalistas, eruditos e populares consumindo a sua produção de, até, 5 montagens ano, aulas de história do Brasil, lotadas, saraus sobre filósofos, poetas, pensadores, dramaturgos, romancistas, saraus instrumentais, enfim, um modelo novo para qualquer lugar do mundo, na cidade da Baía.

Mas se foi fácil criar esse modelo por causa da voracidade cultural de vocês, seus espectadores, que lotaram esse teatro nos últimos 6 meses, num Pelourinho devastado, para assistir Milagre na Baía, que lotam esse teatro desde 2000 para assistir a tudo que ele oferece, aulas, saraus, montagens, shows, certos da qualidade dos produtos e da democratização que ele imprimiu em suas ofertas, não tem sido fácil mantê-lo gerencialmente. Vocês têm acompanhado...

Agora, o XVIII-tão tem um problema, com outras instituições da cidade, que atinge diretamente o corpo do seu modelo democrático. Para que o ingresso seja acessível a todos, todos os dias da semana, e não apenas aos domingos, o XVIII tem em seu corpo funcionários e técnicos, alguns que ele preparou, contratados pelo regime da CLT, pagos atualmente por verbas do pelo Fundo de Cultura do Estado, que permite que artistas e grupos se apresentem no teatro sem pagar pautas. As Pautas são os aluguéis que os artistas pagam aos espaços, e que quando são repassados aos ingressos impedem a democratização, fazendo artistas e espectadores financiarem espaços culturais. O aluguel diário de um teatro na Baía, que apenas o Theatro XVIII não cobra dos artistas, desde 2000, vai dos 400 reais da Sala do Coro, espaço público, aos 6 mil reais do Teatro Castro Alves, espaço público também.

Em 2007, a Procuradoria Geral do Estado apontou como perigosa e ilegal a maneira como as verbas do estado são repassadas às instituições, e sugeriu que a Secretaria de Cultura não repassasse direitos trabalhistas a elas, e a Secretaria ainda não encontrou, nesses dois anos, uma solução para o problema que está, como uma bomba, no colo do Theatro XVIII. O seu modelo democratizante não pode existir sem parcerias, e é praticamente impossível conseguir patrocínio para sua manutenção física.

Daí que, o Theatro XVIII funciona, com sua programação cênica até abril, esperando uma solução para o seu problema, mantém o projeto dos Miúdos da Ladeira, com crianças, que precisam dele para protegê-los do crack que infestou a cidade, e pensa, repensa, ouve, conversa e discute a volta do seu modelo, maravilhoso e completo, sem o qual ele é um teatro como todos os outros.

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